segunda-feira, 9 de março de 2009

QUILOMBO DO LIVRAMENTO

Durante a subida da serra é possível ver Princesa, São José de Princesa, Patos de Irerê (foto) e o sítio Saco dos Caçula.


VÍDDEO SOBRE...


QUILOMBO DO LIVRAMENTO



QUILOMBO DO LIVRAMENTO
(SÃO JOSÉ DE PRINCESA-PB)


Homens consertam estrada que dá acesso ao Livramento.


A escravidão é quase tão velha quanto a própria história da humanidade. Na bíblia, o Velho Testamento já fala de prisioneiros de guerra transformados em escravos. Textos escritos por povos europeus há mais de 2 mil anos informam que havia tarefas impróprias para homens livres, devendo ser executados por aqueles que não tinham liberdade.

No Brasil, o trabalho escravo chegou junto com a colonização, por volta de 1530, e durou oficialmente até 1888, quando foi promulgada a Lei Áurea.
Ocupados quase sempre na agricultura, os indígenas e, depois os negros escravizados, sofriam castigos físicos e humilhações. Por isso, morriam muito cedo.

O trabalho escravo promoveu o enriquecimento dos fazendeiros e comerciantes, que deles nada mais esperavam do que trabalho e obediência.

Sempre que podiam, os negros fugiam e reuniam-se em grupos ou povoados, chamados QUILOMBOS ou MOCAMBOS. Houve quilombos em muitas regiões e um destes foi o do LIVRAMENTO, localizado na Serra da Baixa Verde a 1.400 metros de altitude, distando cerca de 12 km da sede do município de Princesa Isabel - PB. Na época, adotaram forma de governo semelhante a que tinham na África.





Da esquerda para direita: Maria Aparecida dos Santos(filha), Francisca Ana dos Santos (Chicola; sobrinha),Francelina Luzia dos Santos (França; mãe) e JoséManoel dos Santos (Zé Bola, filho).*Dona França [12/02/1920], 87 anos, filha de Zé Gago,foi parteira durante 35 anos no Livramento. Teve 7filhos, sendo 5 homens e 2 mulheres.Nota: esta foi a única imagem feita em Princesa Isabel.
Todas as outras, diretamente no Livramento.


Histórico negros descendentes de escravos africanos fugitivos dos canaviais de Pernambuco, que guardavam fortes características dos antepassados, vieram para região provavelmente muitas décadas antes de abolida a escravatura, seguindo uma trilha primitiva utilizada pelos aventureiros europeus que adentravam o desconhecido sertão em busca de jazidas. Um grupo de escravos, numa arrancada rumo à liberdade, alojou-se no sudoeste paraibano, em lugar de difícil acesso.

Preocupados com a segurança e para manter a liberdade conquistada, os negros construíram casas de pedras que serviam de abrigo. As ruínas dos casebres de pedra, ainda existentes, são testemunhas do mais antigo quilombo do interior do estado da Paraíba.

Devido a longa distância do litoral e por estar em espaço acidentado, o Quilombo do Livramento nunca sofreu ataques dos brancos através das expedições chefiadas pelos capitães-do-mato.

Acredita-se que os negros fugitivos do trabalho forçado em Pernambuco e albergados no Livramento conquistaram a liberdade quase 100 anos antes da Lei Áurea. Não se sabe, contudo, a origem e a data de chegada exatas dos quilombolas, pois havia um pacto de silêncio entre eles como forma de autoproteção.

Agricultura e Saúde

Os negros do Livramento sobreviviam graças à agricultura (plantavam milho, feijão, mandioca, cana-de-açúcar, bananeira, andu, etc.) e à criação de porcos e galinhas.
Quando adoeciam eram socorridos por um curandeiro chamado João Baião, que fabricava remédios através de raízes de pau, conhecidos como garrafadas.
Cultura1

Na dança, praticavam o coco, o reisado e o samba. Destes, somente o coco persiste. Até hoje, crianças e adultos dançam e cantam o coco. Há um grupo cultural na ativa que se apresenta, quando convidado para eventos, em municípios vizinhos como Princesa Isabel (PB), Triunfo (PE), Manaíra (PB), entre outros.

Religião

O catolicismo predominava, mas com traços da cultura africana. Continua ainda como a principal religião.

Apartheid1

Até recentemente, no início do século XX, os negros viviam isolados porque sofriam bastante preconceito. Não freqüentavam as festas dos brancos, pois eram mal vistos.

Comunidade Quilombola1

No dia 02 de março de 2007, o Governo Federal reconheceu a comunidade do Livramento como remanescente direta de um quilombo. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União e consta no site da
Fundação Palmares.

Por definição, há uma diferença entre as comunidades negras e as quilombolas. Ambas descendem de negros escravizados, mas as primeiras são aquelas que se instalaram em locais diferentes de onde surgiram os quilombos, sendo, portanto, ramo secundário.

Coco1

Além de diversão, o coco era tido como instrumento de trabalho. Os negros usavam-no para preparar os terrenos durante a construção das casas de pedra.
As pedras1

Existem algumas pedras características da região, que foram nomeadas pelos quilombolas. São elas: Pedra do Morcego, Pedra do Velho Domingo e Pedra de Ambrosina (os negros ficavam no rachão à espreita de algum branco ameaçador).
São José de Princesa1

Até 1994, o Livramento fazia parte de Princesa Isabel - PB. Todavia, após a emancipação política de São José de Princesa, passou a pertencer a este município.

Modernidade1

Hoje, o Livramento possui energia elétrica, casas com parabólicas, cisternas, escola com ensino fundamental e até mesmo sinal de celular. Este último é proveniente de uma torre da TIM de Triunfo (PE), município próximo.
Associação1

No dia 05 de dezembro de 2003, foi criada a Associação dos Remanescentes do Quilombo do Livramento com a finalidade de preservar a cultura e lutar por benfeitorias para comunidade.


(Texto base desenvolvido por Marta Maria dos Santos, alunos e professores da Escola Estadual Gama e Melo. Revisto, editado e ampliado1 por Mardson Medeiros. Colaborou Lúcia Silva, descendente dos quilombolas do Livramento.)
MÚSICA

A embolada, canção que se entoa para dançar o coco, mais famosa no Livramento chama-se "Aiá". Segundo a lenda, Aiá era uma moça negra muito bonita que vinha de lugar desconhecido para alegrar o quilombo.
Certo dia, uma forte enchente levou a moça que morreu afogada. Os negros entristecidos e com saudade fizeram a música para homenageá-la.
Veja a letra e escute o som abaixo.

(Mardson Medeiros, com informações de Lúcia Silva)
"AIÁ"(autor desconhecido)

Eu vi Aiá chorandoChorando eu vi AiáEu faço que tô te amandoQue tô te amandoE ainda vou te amarÔ, OlindinaÔ, OlindáVem cá minha belezaÔ belezinha venha cáEu vi Aiá chorandoChorando eu vi AiáEu faço que tô te amandoQue tô te amandoE ainda vou te amar...


Associação dos Remanescentes do Quilombo do Livramento(Gestão 2007-2009)
Presidente: Maria de Lourdes Santos (filha de dona Chicola)Secretária: Maria Helena CavalcanteTesoureira: Eurides de Paula SantosAssociados: 40 pessoas.Contato: (83) 3491-1049




FONTE:
SITE PRINCESAPB
http://www.princesapb.com/nota189.htm




6 comentários:

  1. Olá... conheci agora teu blog quando estava procurando alguma referência sobre os quilombolas... E achei super interessante como vc aborda aqui no blog. Pretendo fazer um projeto em cima desse assunto, se puder, me diz algumas referências sobre os quilombolas aqui na Paraíba. Sou de Patos, fiquei sabendo que em Santa Luzia há uma comunidade deles. Conhece algum autor que abord ao assunto? Meu e mail é anaclarissa@hotmail.com
    Me ajuda!!! rsrs um abraço!!!

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  2. Muito grato, por ter conectado esta comunidade tão esquecida, do Quilombo do Livramento temos mas fotos, não só do Quilombo, mas do povoado de Irêrê terra de Marculini e xanduzinha,imortalizados na muzica de Luiz gonzaga,O CABOCLO MARCULINO TINHA OITO BOI ZÉ BÚ,UMA CASA COM VARANDA DANDO DO NORTE PRO SUL...SEU PAIÓ ESTAVA CHEINHO DE FEIJÃO E DE ANDU, SEM CONTAR COM MAS OS COBRIS LÁ NO FUNDO DO BAÚ MARCULINO DAVA TUDO POR UM XERO DE XANDU !!!!!! AI XAN DUZINHA,XANDUZINHA, MEU XODÓ, EU SOU POBRE MAS VC SABE, QUE O NOSSO AMOE, VALE MAS, QUE OURO EM PÓ... saudasões sou Damião Ferreira, Secretario de Agricultura e Turismo de São José de Princesa...

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  3. A comunidade de Livramento é apenas uma das mais de trinta comunidades quilombolas existente em nosso estado. Parabenizo a iniciativa de está evidenciando a comunidade quilombola de Livramento, contudo é necessário divulgar também o quanto essas comunidades vem resistindo a diversos formas de expolição. São comunidades espacialmente segregada, com pouca ou nenhuma infra-estrutura onde a propriedade do território está muitas vezes comprometida por latifundiários ou especuladores imobiliário.
    Outra coisa que devemos tomar cuidado é em está evidenciando as comunidades quilombolas como algo exótico, servindo como objeto de curiosidade para turistas. Utilizar essas comunidades para tal objetivo é de uma perversidade extremante lamentável.

    Para os interessando (as)pela temática coloco á disposição o trabalho monográfico que produzi e apresentei no começo deste ano (2010. Ele está hospedo no seguinte endereço: < http://www.scribd.com/doc/27542676/Acesso-as-Politicas-Publicas-pelas-Comunidades-Quilombolas-na-Paraiba-Uma-Analise-das-Comunidades-do-Paratibe-Mituacu-e-Pedra-D-agua >

    Atenciosamente,
    Hugo Leonardo Macena
    Geografia | Universidade Federal da Paraíba

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. comecei a escrever a história do Quilombo deste meus 12 anos, ouvindo do meu avô, Manoel Roseno, e de dona Maria Marçal, desta escutei vário relatos sempre que ia até sua casa para ser benzida de algum mau. Guardo vários relatos e rascunhos que anotava. Compus um cordel relatando toda trajetória de vida, tradição e cultura do meu povo do Livramento. Estou a disposição para fornecer qualquer informação a este respeito.
    Lúcia
    lucinhadasilva@hotmail.com

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  6. QUILOMBO DO LIVRAMENTO
    LÚCIA SILVA

    DE MUITOS CAUSOS CONTADOS
    QUE COMPÕE A NOSSA HISTÓRIA
    DA FORMAÇÃO DO QUILOMBO
    SEU POVO SUA MEMÓRIA
    CONTO AQUI FATOS REAIS
    DE LUTAS E MUITOS AIS
    DENTRO DA NOSSA VITÓRIA

    O QUILOMBO DO LIVRAMENTO
    EM SÃO JOSE DE PRINCESA
    BEM LÁ NO ALTO DA SERRA
    ESCUPINDO A NATUREZA
    E ALGUNS SÉCULOS DE GLÓRIA
    DENOTAM ESSA VITÓRIA
    E REVELANDO A GRANDEZa


    SEM DIZER DE ONDE VIERAM
    PERNAMBUCO OU ALAGOAS...
    MAS ENTRE PRINCESA E TRIUNFO
    ENCONTRARAM SUA COROA
    BEM DISTANTE DO TORMENTO
    AGORA UM NOVO ALENTO
    NUMA LIBERDADE BOA


    TEMENDO A ESCRAVIDÃO
    CONSTRUIU SUA MORADIA
    UMAS CASINHAS DE PEDRAS
    QUE VIVIA TODO DIA
    E NESTA ARTICULAÇÃO
    EM MEIO A ESCURIDÃO
    CONFUNDIR QUEM O PERSEGUIA




    E ESTAS CASINHAS SIMPLES
    ERA TÍPICO DO LUGAR
    UMA CONSTRUÇÃO SEM MEDIDA
    MAS SENDO ESTE SEU LAR
    BARRO E PEDRA SOBRE PEDRA
    EMBOLADA E QUEBRA-QUEBRA
    DE COCO PARA APILAR

    (...)


    DEIXANDO TUDO PRA TRÁS
    NESSA TERRA TÃO DISTANTE
    MENTES PROVIDAS DE MEDO
    SEM OURO SEM DIAMANTE
    ESTAVAM LONGE DOS SEUS
    POR ELES APENAS DEUS
    E UMA PAZ OSCILANTE
    (...)

    (...)


    CINZEIRO E CALUGI
    SEUS NOMES PRIMEIRAMETE
    E NAQUELA NOVA VIDA
    DUMA PAZ ADOLESCENTE
    UM TÍTULO DE LIBERDADE
    JÁ EXCETO DE SAUDADE
    LIVRAMENTO SIMPLESMENTE








    O LUGAR BEM CONHECIDO
    PELA REGIÃO ADENTRO
    NA SERRA DA BAIXA VERDE
    SUA FAMA AO DESALENTO
    COM TRISTEZA, INTITULADO:
    “CACHACEIRO E AMUNDIÇADO”
    FERINDO O SEU LIVRAMENTO.

    ENTRE ESTA NOMEAÇÃO
    QUE ALGUEM AO NEGRO DAVA
    DIZIA QUE ERA CÃO
    BENZIA E SE ABISMAVA
    DIANTE DESTE PRECONCEITO
    MISTURAR NÃO TINHA JEITO
    NOSSA GENTE SE ISOLAVA

    PELE NEGRA LÁBIOS CAIDOS
    OLHOS VERMELHOS CHORAVA
    PÉ CHATO CABELOS CRESPOS
    QUE NA CABEÇA GRUDAVA
    E EM TODA A REGIÃO
    NA HORA DA PRECISÃO
    NIGUEM ALI SE IGUALAVA

    DO NASCER AO POR DO SOL
    TRABALHAVA COMO LOUCO
    COM A MENTE ESCRAVIZADA
    EXIGIA MUITO POUCO
    GUARDANDO AQUELA HERANÇA
    SERVIAM DE CONFIANÇA
    NA TATAÍRA AOS “CABOCLOS”

    JUNTAVAM SUA BATALHA
    SEM RECEBER UM TROCADO
    NOS PATOS DE IRERE
    OU ONDE HOUVESSE UM CHAMADO
    APENAS PELO ALIMENTO
    ENFRENTAVAM SOL E VENTO
    NO PRAZEROSO ROÇADO




    AS MULHERE POR SUA VEZ
    IGUALMENTE TRABALHAVAM
    SENDO ALEGRES E ESPERTAS
    A TODOS ADIMIRAVAM
    FUMAVAM, BEBIAM CACHAÇA
    MOSTRANDO O CALOR DA RAÇA
    E IGUAL AS ONÇAS BRIGAVAM

    SEM DIREITO A PARTICIPAR
    DE QUALQUER ACONTECIMENTO
    HAVENDO EM OUTRO LUGAR
    ERAM PRIVADOS DO ALENTO
    DISPENSANDO FOICE E CORDA
    PISAVAM COCO DE RODA
    FAZENDO SEU PRÓPRIO EVENTO

    ESTA DANÇA ACUSAVA
    TRISTEZA E ALEGRIA
    RELATANDO A VIVÊNCIA
    EM MOTE E MELODIA
    TIMIDEZ ERA BESTEIRA
    PULAVAM A NOITE INTEIRA
    ATÉ AMANHECER O DIA




    O coco de umbigada
    Na roda ia até o fim
    O povo na embolada
    -Meu bem espera por mim!
    Vamos afundar o chão
    Os homens na prontidão
    - Ô mulher dança o Silim!

    Para completar a farra
    Tomava-se um aguardente
    Que servia de agasalho
    Meizinha pra dor de dente
    Com tantas diversidades
    Proviam as necessidades
    De um jeito bem diferente


    A tradição e cultura
    Mantinham sem fazer pouco
    Todo final de semana
    Cantavam de ficar rouco
    E na imensa alegria
    Unidos pela mesma folia
    Pulavam em roda de coco






    Uma canção de embolada
    Que vive o povo a cantar
    É a saga de uma moça
    Conhecida por Iaiá
    Que foi na a água levada
    Sem por ninguém ajudada
    Quando fugia
    (...)

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